BELLE DE JOUR (1967) - LUIS BUÑUEL








Belle de Jour é o segundo filme realizado por Buñuel no seu regresso a França após mais de 30 anos. Entre o início dos anos 30 e meados dos anos 60, o realizador espanhol passou temporadas em Espanha, Estados Unidos e México, tornando-se cidadão mexicano em 1949. Neste país, Buñuel filmou mais de 20 filmes e permaneceu até ao final da sua vida, passando períodos a filmar em França e Espanha.

Em Belle de Jour, Severine é uma jovem mulher burguesa e frígida que, atormentada por fantasias masoquistas, decide prostituir-se durante o dia enquanto o marido está no trabalho. Belle de Jour, nome adoptado por Severine no local de trabalho e escolhido pela dona da casa, madame Anais, é a expressão utilizada para designar uma prostituta que trabalha durante o dia. Catherine Deneuve, ícone do cinema francês, compõe uma das personagens mais marcantes da sua longa carreira. Mulher refinada e inatingível, Severine é  enigmática até ao fim. Sabemos, desde o inicio, que a sua frigidez tem origem em acontecimentos da infância, mas o seu íntimo é imperscrutável. Tal como todos os restantes personagens, esbarramos sempre na expressão fria do rosto de Deneuve e no silêncio quase constante da personagem.

Em Belle de Jour, somos espectadores da vida secreta de Séverine, voyeurs. Seguimo-la para todo o lado, facto que é acentuado pelos movimentos de câmara. Assistimos à sua inevitável decadência, observamos a transformação de atitude que se dá, desde as primeiras experiências no bordel, e vemo-la desenvolver uma relação intensa e destrutiva com um dos clientes. Mas, apesar de a observarmos na intimidade, o único acesso que Buñuel nos dá ao interior da personagem são as visões dos sonhos que penetram a realidade quotidiana de Severine.

A temática do sonho e a sua relação com a realidade é um dos pontos centrais na obra de Buñuel cujos filmes se caracterizam pela integração de um imaginário surrealista, perturbante e, muitas vezes, ligado a uma sexualidade reprimida. Este filme não é uma excepção, apresentando um surrealismo amadurecido e subtil. A personagem inicia, com a exploração da sua sexualidade, uma espiral que a aliena cada vez mais da realidade e o filme acompanha-a, tornando-se cada vez mais difícil distinguir os limites do devaneio. O próprio final do filme é alvo de grandes discussões acerca do seu significado, que o próprio Buñuel recusa esclarecer.

Belle de Jour, como várias das obras mais conhecidas de Buñuel é uma crítica aos valores da classe burguesa, no seio da qual ele próprio cresceu. Inspirado pelas teorias de Freud, o cineasta analisa o seu próprio meio e tenta fazê-lo implodir, colocando a nú os mecanismos de repressão postos em prática pela sociedade e pelas relações de poder inerentes a esta. 





Belle de Jour is Buñuel's second film by in his return to France after more than 30 years.Between the early 30s and mid 60s, the Spanish director spent seasons in Spain, the United States and Mexico, becoming a citizen of Mexico in 1949. In this country, Buñuel filmed more than 20 films and remained until the end of his life, passing periods filming in France and Spain.In Belle de Jour, Severine is a frigid and bourgeois young woman who, tormented by masochistic fantasies, decides to prostitute herself during the day while her husband is at work. Belle de Jour, the name adopted by Severine at herr workplace and chosen by the hostess, Madame Anais, is the term used to describe a prostitute who works during the day. Catherine Deneuve, French cinema icon, compose one of the most remarkable characters of her career. Refined and unattainable woman, Severine is an enigmatic character until the end. We know from the beginning, that her frigidity stems from childhood events, but her heart is inscrutable. Like all other characters, we always bump in the cold expression of Deneuve's face and her almost constant silence.In Belle de Jour, we are spectators of the secret life of Séverine, voyeurs. We follow her around everywhere and this is accentuated by camera movements. We watch its inevitable decay, we observe the transformation of attitude that comes about, from the first experiments in the brothel, and see it develop an intense and destructive relationship with one of her customers. But, though the look in their intimacy, the only access that Buñuel gives us the inside of the character are the visions of dreams that penetrate the daily reality of Severine.The theme of the dream and its relation to reality is one of the central points in  Buñuel's work, whose films are characterized by the integration of an imaginary surreal, disturbing and often linked to a repressed sexuality. This film is no exception, presenting a mature and subtle surrealism. The character starts with the exploration of his repressed sexuality, a spiral that alienates more and more of reality and the movie follows it, making it increasingly difficult to distinguish between the bounds of reverie. The very end of the film is the subject of much discussion about its meaning, which Buñuel refuses to clarify.Belle de Jour, as several of the best known works of Buñuel is a critique of the bouregeois class values, within which he grew up. Inspired by Freud's theories, the filmmaker examines his own environment and tries to make it implode, putting bare the mechanisms of repression put in place by society and power relations inherent in this.

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