(contém spoilers)
Considerado um filme menor na carreira do cineasta, A Fonte da Virgem (Jungfrukälla) é uma pequena pérola na filmografia de Ingmar Bergman.
A Fonte da Virgem, baseado numa balada medieval, é a história de uma família, rica e cristã, cuja filha é violentamente violada e assassinada por pastores após a sua meia-irmã lhe ter lançado uma maldição. A personagem central é Karin, a filha inocente, a quem é incumbida a tarefa de percorrer um longo caminho até à igreja para entregar velas em honra de Nossa Senhora. Na sua jornada, acompanha-a Ingeri, sua meia-irmã que vive na casa mas é tratada como uma criada. Estas personagens são a antítese uma da outra e cada uma delas representa uma determinada atitude perante a vida. Karin é uma jovem rapariga um pouco fútil mas ingénua e bondosa, modelo da virtude cristã. Pelo contrário, Ingeri, adoradora de Odin e transportando no ventre uma criança (tal como ela própria) ilegítima, é uma criatura que se deixa levar pelos seus instintos mais básicos, selvagem e vingativa, e que assiste à violência praticada contra Karin sem tentar impedir.
O momento chave do filme ocorre quando o caminho delas se cruza com o de três irmãos pastores, dois homens e um rapazinho, a quem Karin oferece comida aceitando, ingenuamente, juntar-se a eles na refeição. Aproveitando-se, de forma brutal, das boas intenções da jovem, os dois pastores mais velhos violam-na e matam-na. Mais tarde, sem terem consciência, os assassinos pedem abrigo na casa da família de Karin que acaba por descobrir o que eles fizeram. Apesar da sua moral Cristã, Tore, chefe de família recto e autoritário, vinga-se selvaticamente dos assassinos da filha. Na sua raiva, Tore mata também o mais novo dos três pastores, que nada tinha feito para além de assistir impotente às acções dos irmãos que o maltratam e que sofre terrivelmente com os remorsos. Esta criança é uma das personagens mais marcantes do filme, pelo seu destino trágico, e protagoniza uma das cenas mais comoventes quando, logo após o assassínio de Karin, os seus irmãos o deixam sozinho a vigiar o corpo.
À semelhança de O Sétimo Selo (1957), a acção passa-se na época medieval, num tempo em que o cristianismo se consolida na Suécia, confrontando-se com as tradições pagãs enraizadas. Retratando este choque cultural entre dois mundos diferentes, Bergman serve-se dos comportamentos e diálogos dos personagens, que funcionam como arquétipos de determinadas crenças e atitudes, bem como das relações entre eles, para reflectir acerca do valor da fé e da condição humana.
Apesar de ter ganho vários prémios importantes, A Fonte da Virgem provocou polémica na altura devido à cena de violação. Esta cena, apesar de ser muito menos explícita do que muitas das que tiveram lugar no cinema posterior, é de uma grande violência pela sua secura. Não existe qualquer música para (como, aliás, em quase todo o filme) que nos indique o que sentir. Apenas os sons que o homem faz e depois o silêncio, interrompido apenas pelo grito de desespero de Karin. Todo o filme é filmado de forma elegante e expressiva, e está repleto de belos contrastes que nos reportam para a eterna luta entre a luz e as trevas.
(Spoiler Alert)
Considered a minor movie in thefilmmaker's career , The Virgin Spring (Jungfrukälla) is a little gem in Ingmar Bergman filmography.The Virgin Spring, based on a medieval ballad, is the story of rich and Christian family whose daughter is viciously raped and murdered by herders after her half-sister had launched a curse on her. The central character is Karin, the innocent daughter, who is assigned the task to go a long way to the church to deliver candles in honor of Our Lady. On her journey, ahe is accompanied by Inger, her half-sister, who lives in the house but is treated like a servant. These characters are the antithesis of each other and each one represents a certain attitude towards life. Karin is a little bit futile young girl, naive and kind, model of Christian virtue. Rather, Inger, worshiper of Odin and carrying a child in the womb (as herself) illegitimate, is a creature carried away by her baser instincts, savage and vindictive, who watches the violence against Karin without trying to prevent it .The key moment of the film occurs when their path crosses with the three brothers, two men and a boy, to whom Karin offers food, naively joining them in a pic nic. Taking a brutal advantage of Karin's good intentions, the two older pastors rape her and kill her. Later, without knowing, the killers ask for shelter under Karin's family home. The family ends up discovering what they did. Despite its Christian morals, Tore, authoritarian householder, savagely avenges his daughter. In his rage, Tore also kills the youngest of the three shepherds who had done nothing but watch helplessly to the actions of his brothers, who mistreated him, and suffer terribly from remorse. This child is one of the most remarkable characters of the film, due to his tragic fate, and stars in one of the most moving scenes when, shortly after the murder of Karin, her brothers leave him alone to watch the body.Like The Seventh Seal (1957), the action is set in medieval times, a time when Christianity was consolidating in Sweden, faced with the pagan traditions rooted. Portraying this culture clash between two different worlds, Bergman makes use of the character's behavior and dialogue as well as the relationships between them to reflect on the value of faith and the human condition.
Despite having won several major awards, The Virgin Spring provoked controversy at the time because of the rape scene. This scene, although it is much less explicit than many of the movies that took place later, has a great force for its dryness. There is no music (as, indeed, in almost the entire film) that tell us what to feel. Only the sounds that the man does and then silence, broken only by Krin's cry of despair. The entire film is shot in an elegant and expressive way, full of beautifull contrasts reporting to the eternal struggle between light and darkness.
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