UMBERTO D (1952) – VITTORIO DE SICA






Umberto D. é um comovente retrato da solidão e da velhice através da personagem de um idoso, Umberto Domenico Ferrari, que depende da reforma que recebe do estado para sobreviver e tem por único companheiro um cãozinho chamado Flike. Incapaz de pagar as suas dívidas a uma senhoria maldosa, acompanhamos o seu desespero à medida que quase toda a gente com quem ele se cruza tenta aproveitar-se da sua situação e Umberto se apercebe que, por muito que queira, não vai conseguir evitar ser despejado do quarto que habitou durante vinte anos. O único companheiro fiel de Umberto nos seus dias de velhice é um engraçado cão rafeiro pelo qual ele tem um enorme carinho e a relação entre os dois está no centro de algumas das cenas mais comoventes de Umberto D.
Para além de um estudo de personagem, Umberto D. é um filme com uma forte componente de retrato social, não fosse ele considerado uma das grandes obras-primas do neo-realismo. O empenho social é visível desde a primeira cena, na qual o personagem principal é apresentado no contexto de uma manifestação de pensionistas que termina em coerção policial, e está sempre presente através da atenção dada ao quotidiano e ao espaço social que é a cidade.
As reacções dos personagens para com a situação do protagonista vão desde a maldade da senhoria e de todos os que têm oportunidade de se aproveitar da situação desesperada dele, passando pela indiferença hipócrita dos “amigos” que ele encontra na rua, até à incompreensão inocente da criada que, ainda assim, é quem mais o ajuda e podem ser vistas como uma critica a uma sociedade individualista e sem compaixão pelos mais frágeis.
A presença do neo-realismo está também presente na escolha dos intérpretes que, em vez de serem actores profissionais, são pessoas descobertas nas ruas. As principais diferenças entre Umberto D. e os seus antecessores neo-realistas está relacionada com o apuro técnico. De Sica tem, neste filme, um grande cuidado com a fotografia bem como com a qualidade plástica da mise-en-scéne, elementos que em filmes como Roma Cidade Aberta (1945) de Rosselini eram relegados para segundo plano em detrimento de um realismo mais cru.
            Apesar de ser hoje considerado uma das grandes obras da história do cinema e o último filme verdadeiramente neo-realista, Umberto D. não teve sucesso comercial no seu tempo, apanhando um momento em que o público italiano começava a virar a sua atenção para outro tipo de filme, mais ligeiro do ponto de vista temático, e que o governo italiano encorajava os realizadores a apresentarem uma imagem mais positiva da Itália. 



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Umberto D. is a moving portrait of loneliness and old age through the character of an old man, Umberto Domenico Ferrari, which depends on the reform he recieves from the state to survive and which only companion is a dog named Flik. Unable to pay their debts to an evil landlord, we follow his despair as almost everyone with whom he meets try to take advantage of his situation and Umberto realizes that, however much he wants it, he will not be able to avoid being evicted from the room he lived for twenty years. The only faithful companion of Umberto's old days is a funny dog for which he has a great affection and their relationship is at the center of some of the most moving scenes of Umberto D.Apart from a character study, Umberto D. is a film with a strong component of social portrait, being considered one of the great masterpieces of neo-realism. The social commitment is visible from the first scene, in which the main character is presented in the context of a manifestation of pensioners ending with police coercion, and is always present through the attention given to everyday life and to the social space that is the city.The other characters' reactions to the situation of the protagonist goes from the evil of the landlady and of all who have the opportunity to take advantage of his desperate situation, through the indifference of the hypocritical "friends" that he finds on the street, to the innocent incomprehension of the maid, that still is who helps him the most, and can be seen as a criticism to an individualistic society and without compassion for the weak.The presence of neo-realism is also present in the choice of performers who, instead of professional actors, are people found on the streets. The main differences between Umberto D. and its neo-realist predecessors is related to technical accuracy. De Sica takes great care with photography as well as with the artistic quality of the mise-en-scene, elements that in such films as Rome Open City (1945) from Rossellini were sidelined at the expense of a more realistic rawness.
            
Although it is now considered one of the great works of film history and the last truly neo-realist film, Umberto D. had no commercial success at his time, when the Italian public was beginning to turn its attention to another kind of film, thematically lighter, and the Italian government encouraged the filmmakers to present a more positive image of Italy.

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