Natural Born Killers
satiriza uma sociedade entorpecida pelo espectáculo da violência. Mickey
(Woody Harrelson) e Mallory (Juliette Lewis) são o produto desse ambiente. Quando
os dois se cruzam, começa a cozinhar-se uma explosão que culmina numa viajem pelos USA matando pessoas ao acaso e
certificando-se que o seus actos não passam despercebidos. Mickey e Mallory Knox obedecem apenas às suas
próprias regras e a relação que têm um com o outro alimenta e é alimentada pelos
crimes que cometem juntos. O casal vive numa bolha onde só existem eles
os dois e comportam-se como se fossem os protagonistas do seu próprio filme de
acção. Sempre conscientes da imagem que os meios de comunicação projectam
deles, Mickey e Mallory vêm-se como heróis, seres humanos superiores.
O
verdadeiro centro do filme não são os assassinos mas sim a forma doentia como a
sociedade reage a eles e os retrata e glorifica. Em Natural Born Killers, Mickey e Mallory são instantaneamente transformados
nas celebridades do momento. Através dos crimes que cometem, atingem aquilo que
é uma das grandes aspirações de uma sociedade dominada pelos valores do espéctaculo:
Fama. Os outros personagens são completamente intoxicados pela fama deles e
pelo ambiente de circo que os rodeia: o repórter que entrevista Mickey na
prisão está visivelmente entusiasmado por conhecer o homem que lhe vai fazer
muito dinheiro; à porta do tribunal, uma multidão manifesta-se em sinal de
apoio aos assassinos, como se eles fossem estrelas de cinema. Às tantas, acabam
por ser tratados como se fossem realmente os heróis que imaginam ser, numa
espécie de delírio colectivo.
Natural Born Killers
é uma espécie de ave rara: um filme de estúdio experimental. Através da forma
como filma, Oliver Stone acompanha os seus personagens enquanto eles quebram todas
as regras: montagem frenética, vários formatos de filme, jogos com os pontos de
vista, animação… isto e muito mais contribui para um resultado final que é uma
explosão psicadélica. O mundo construído por Stone em Natural Born Killers é um mundo plástico, colorido e surreal, como
um espelho que o realizador coloca em frente da sociedade americana e que
distorce e exagera a realidade de forma a despertar o sentido crítico.