À Bout de Souffle (“Acossado” em português e “Breathless” em inglês), realizado em 1960, foi a primeira longa-metragem de Jean-Luc Godard (o mestre) e um dos filmes fundadores da revolucionária Nouvelle Vague (juntamente com Quatre Cents Coups de François Truffaut e Hiroshima mon Amour de Alain Resnais). Apesar de valer bem por si só, é importante situar À Bout de Souffle neste contexto, em que um grupo de cineastas franceses se junta para contestar um determinado estado de coisas (o sistema e capitalização extrema dos filmes de Hollywood, a falta de experimentalismo do cinema da altura, etc.), através dos seus filmes e da sua atitude fresca e experimental perante o cinema.
O filme conta uma história relativamente simples que tem lugar em Paris (as ruas e o ambiente da cidade têm um papel central), em que o personagem principal, Michel Poiccard (interpretado por Jean-Paul Belmondo) é um jovem fora da lei que foge da polícia enquanto tem um romance com a americana Paricia Franchini (Jean Seberg) que tenta convencer a partir consigo. A caracterização e atitudes dos personagens, em conjunto com a desconstrução das formas narrativas tradicionais, revelam uma visão do mundo e do cinema que está de acordo com o existencialismo que, na mesma altura, começava a alcançar uma grande projecção cultural. A constante referência, sobretudo a filmes de Hollywood, revela um grande conhecimento da história do cinema que se explica pelo acesso que esta geração de cineastas teve (ao contrário das gerações anteriores em França, devido à guerra) a todo o tipo de filmes que tinham sido feitos até então, e o seu fascínio e atitude critica perante essa mesma história.
À Bout de Souffle é um filme importante principalmente pela forma como subverte todo o tipo de regras do cinema (desconstrução narrativa, jump cuts, quebra da quarta parede, despreocupação com o raccord…) lembrando-nos constantemente que estamos perante um filme, um objecto construído, e questionando-nos acerca da nossa relação com esse mesmo objecto.
À Bout de Souffle ("Breathless" in English), from 1960, was the first feature film from Jean-Luc Godard (the master) and one of the founders of the revolutionary Nouvelle Vague (along with Quatre Cents Coups by François Truffaut and Hiroshima Mon Amour by Alain Resnais). Despite well assert itself, it is important to situate À Bout de Souffle in this context, when a group of French filmmakers come together to challenge a particular state of affairs (the system and extreme capitalization of Hollywood movies, the lack of experimentalism in film, etc.)., through their films and their attitude towards cinema.The film tells a relatively simple story that takes place in Paris (the city's streets and the environment have a central role), in which the main character, Michel Poiccard (played by Jean-Paul Belmondo) is a young outlaw who escapes from police while having an affair with the american Patricia Franchini (Jean Seberg) whom he tries to convince to go with him. The characterization and attitudes of the characters, along with the deconstruction of traditional narrative forms, reveal a world and film view which is in accordance with the existentialism that, at the same time, began to reach a large cultural projection. The constant reference, particularly to Hollywood films, shows a great knowledge of film history that is explained by the access this generation of filmmakers had (unlike the previous generations in France due to war) to all kinds of films that had been made so far, and their fascination and critical attitude towards this same story.À Bout de Souffle is an important movie, especially for the way it subverts all kinds of rules of cinema (narrative deconstruction, jump cuts, breaking the fourth wall, unconcern with raccord ...) constantly reminding us that we are seeing a film, a built object, and questioning us about our relationship with this same object.