"A humanidade permanece irremediavelmente presa na Caverna de Platão, continuando a deleitar-se, como é seu velho hábito, com meras imagens da verdade."

in Na Caverna de Platão, Susan Sontag








Sequência de Attenberg (2010) - Athina Rachel Tsangari
Musica: Tous les Garçons et Les Filles - Françoise Hardy








Fotograma de Persona (1966) - Ingmar Bergman

Fotograma de Amateur (1994) - Hal Hartley



Easy Rider (1969) – Dennis Hopper






Easy Rider (1969), é um filme emblemático da contra-cultura dos anos 60 e 70. Num momento em que a paisagem cultural e social estava a mudar a uma velocidade vertiginosa, os estúdios não sabiam o que fazer para cativar o público. A era dourada do cinema clássico tinha entrado em decadência havia muito e a geração dos baby boomers chegara à idade adulta com ideias e formas de estar radicalmente diferentes da geração dos seus pais. As velhas formulas já não resultavam, os realizadores e produtores não compreendiam o seu público. Foi neste contexto que Dennis Hoper e Peter Fonda (ambos então actores com alguma notoriedade em Hollywood), com 33 e 29 anos respectivamente, quiseram retratar de forma fiel o estilo de vida e os ideais da sua geração. Influenciados pela estética do novo cinema europeu com a sua abordagem mais livre e descomprometida ao cinema, tiveram a ideia de fazer um biker movie de baixo orçamento. Dennis Hoper seria o realizador e Peter Fonda o produtor. 

A rodagem de Easy Rider tornou-se lendária pelo ambiente de caos e paranóia  Com Dennis Hoper meio enlouquecido, constantemente em estados mentais alterados, e sem uma equipa profissional as condições eram as ideais para tudo correr mal. A certa altura ninguém acreditava que daquela rodagem resultasse alguma coisa de bom. 

Easy rider é a viagem de dois jovens, Wyatt e Billy que, após ganharem dinheiro no tráfico de cocaína, resolvem atravessar as vastas paisagens dos Estados Unidos da América e ir passar o Carnaval em Nova Orleans. Pelo caminho cruzam-se com várias pessoas e situações que ajudam a pintar um quadro dos EUA no final dos anos 60/ início de 70, com as suas tensões sociais e culturais. Wyatt e Billy são os representantes de uma geração em busca de liberdade. Todo o filme é um pouco abstracto e nunca sabemos muito sobre o background dos personagens principais, o que contribui para o seu carácter simbólico. O personagem mais convencional, George Hanson, é introduzido mais ou menos a meio do filme, interpretado por Jack Nicholson no 1º grande papel da sua carreira. Hanson é o personagem com que o público mais facilmente se identifica ao longo de todo o filme. Alcoólico  advogado, perfeitamente aceite e integrado na sociedade, serve um como elo de ligação entre duas Américas em conflito, a da contra-cultura e a dos valores conservadores. È Hanson que protagoniza algumas dos momentos mais marcantes do filme e é ele o personagem mais trágico. 

Pode dizer-se que Easy Rider é um retrato do apogeu e decadência dos ideais da década de 60, uma premonição da desilusão com a impossibilidade de uma vida totalmente livre e verdadeira. Uma das frases mais famosas do filme é “we blew it”, frase de significado vago no contexto da história mas que resume tudo.

Laszlo Kovaks, que recebeu prémios pelo seu trabalho como director de fotografia em Easy Rider, é um dos grandes responsáveis pelo ambiente quase documental do filme. Juntamente com uma montagem inspirada na Nouvelle Vague, o trabalho de Kovaks contribui para uma estética realista completamente estranha ao que era dominante em Hollywood. O efeito realista foi, ainda, conseguido devido a uma grande dose de improvisação. Um exemplo disso é a famosa cena do restaurante, em que foram buscar pessoas reais e os deixaram improvisar, resultando numa cena marcante e intensa. 

Easy Rider é um filme de ruptura entre a velha e a nova Hollywood, tanto a nível estético como nas formas de produção e distribuição. Com Easy Rider, os estúdios começaram a perceber que, naquele momento, ganhavam mais com filmes de baixo orçamento em que concediam maior liberdade artística aos realizadores e abrem as portas a uma nova geração de cineastas, da qual fazem parte nomes como Francis Ford Copolla e Martin Scorcese.